O Que Eu Falo Quando Eu Falo De Corrida

O Murakami é o tipo de escritor que estou disposta a ler quase qualquer coisa que ele escreva, com a certeza de que seu estilo único vai fazer as páginas fluírem com facilidade. Boa parte de querer ler esse livro especificamente no início da quarentena foi que eu esperava que me desse alguma empolgação pra correr. Quem melhor que um dos meus escritores favoritos pra me convencer? Bom, funcionou por uns dois dias. Já é bastante coisa até, pros meus padrões.

A maior parte do livro foi escrita enquanto o Murakami se preparava para a Maratona de New York, relatando o progresso dos seus treinos e sua história com a corrida. Identificando este como um esporte que se encaixava perfeitamente com seu temperamento, a prática o acompanhou por muitos anos e maratonas, impactando sua rotina e sua escrita.

O Murakami relaciona diversas características necessárias para ser um corredor de longa distância com sua profissão de romancista, ou melhor, a forma como ele atua em seu trabalho, dedicando a ambos a mesma perseverança e consistência. O exercício de correr todos os dias é tão fundamental para um corredor quanto escrever todos os dias para um escritor.

Contém lições valiosas para qualquer corredor ou escritor iniciante e essas mesmas observações podem ser aplicadas a diferentes contextos. O livro também funciona como uma janela na vida de seu autor. Mesmo que o tema de corrida não o interesse, um leitor de Murakami tem muito a encontrar aqui sobre sua metodologia e forma de pensar. Pude sentir como sua objetividade e dedicação influenciam o estilo e a atmosfera de suas histórias.

E mesmo que o livro não tenha sido a grande chave para o fim do meu sedentarismo, as descrições da sensação de utilizar e aperfeiçoar seu corpo para um determinado objetivo, superando seus próprios limites, me deram uma visão diferente do esporte e da atividade física, criando uma curiosidade que eu nunca tive. Senti o desejo de experienciar aquelas conquistas.

Mas dois dias correndo foram suficientes pra entender que eu ainda estou bem longe disso. Quem sabe um dia.