Hunger Makes Me A Modern Girl
Carrie Browstein nos conta como ela criou e destruiu o Sleater-Kinney

Hunger Makes Me A Modern Girl são as memórias de Carrie Browstein enquanto guitarrista e vocalista do Sleater-Kinney. Ela nos dá uma descrição muito honesta tanto da história da banda quanto de sua jornada e crescimento. Longe de serem típicas estrelas do rock, a vida na banda não possuía glamour ou exageros. Nascida em Olympia, na cena riot grrl, a banda foi construída com paixão e trabalho duro, fruto da química entre as três integrantes.
As pessoas que fizeram parte de sua vida são descritas com muito carinho. O otimismo e generosidade imensos do Eddie Vedder, o profissionalismo e talento da Janet Weiss, mas principalmente seu relacionamento com a co-fundadora da banda Corin Tucker, demonstrando de forma verdadeira a essência dessa relação e a compatibilidade musical que as uniu em suas composições.
Mas de longe a figura mais interessante é a própria Carrie. Com o privilégio da distância dos acontecimentos, ela consegue analisar a si mesma e as próprias decisões enquanto narra como ela destruiu o Sleater-Kinney, banda onde encontrou seu lar e seu propósito. A cada momento decisivo (quando seu pai se assume gay, um término devastador, ou deixar de ser uma banda indie para assinar com uma grande gravadora), ela descreve seu comportamento e toma para si as responsabilidades das quais se esquivou no passado. Com toda a gama de imaturidade e arrependimentos de cada situação, ela está tanto contando sua história quanto fazendo as pazes com ela.
Não faltam triunfos e momentos de partir o coração. Vemos ela se agarrar às coisas que dão sentido a sua vida e perdendo isso aos poucos, com a realização do dano sendo percebida de fato somente quando ela se despedaça completamente. Então ela pode parar, olhar ao redor e achar uma saída. Não faz mais sentido colocar a culpa na família, na namorada ou na banda. É a hora de se perguntar porque as coisas terminaram assim. Hora de entender o que poderia ter feito melhor. De decidir o que fazer daqui pra frente.
O livro me trouxe um novo peso para as músicas. Para a presença da Carrie na banda. Diversas vezes tive que baixar o livro e refletir. Ou terminei um capítulo com lágrimas no olhos. É poderoso e honesto. Como uma música do Sleater-Kinney.