Admirável Mundo Novo
A distopia de Aldous Huxley

Depois da opressão brutal e da desinformação de 1984, o Admirável Novo Mundo a primeira vista não parece tão ruim. Ao invés de terem todas as suas ações observadas e controladas, vivendo com o medo constante de agir de modo impróprio, neste livro as pessoas gozam de muito mais liberdade e há entretenimento ilimitado para todos.
Seus costumes nos deixam tão horrorizados quanto os nossos pareceriam repugnantes para eles. Nesse mundo onde humanos são produzidos de forma industrial, o próprio conceito de ter uma mãe é obsceno. Não existe o conceito de família ou religião. A monogamia é anormal, além de um convite para conflitos. Qualquer relação emocional é recriminada. Qualquer emoção negativa pode ser facilmente eliminada com um comprimido de soma.
E este é considerado um mundo onde todos são felizes. Não é que concordem com a forma que tudo funciona. É que eles estão satisfeitos, confortáveis e ocupados demais para refletir a respeito. Foram condicionados para isso desde a sua concepção, com alterações em seu desenvolvimento e lavagens cerebrais pregando as morais e preceitos de sua sociedade. Aceitam com gratidão sua posição fixa na sociedade, sem laços ou frustrações.
O poder de uma distopia vem da capacidade que ela tem de fazer você enxergar esse futuro. Não é tão difícil de imaginar, com a tecnologia facilitando quase todo tipo de necessidade e tornando o mundo cada vez mais conveniente. Para aqueles que têm a condição financeira pra isso, claro. E vários elementos já estão presentes, mesmo que exagerados ou com outra forma. As próprias classes sociais rígidas impostas à essa sociedade, criadas propositalmente pelo governo com a justificativa de manter o equilíbrio e o progresso, são um reflexo das que que tomamos por naturais hoje.
Nosso condicionamento acontece naturalmente, com a convivência com preconceitos e ideias já estabelecidas, presentes na cultura, na mídia, e nas pessoas. Mais do que nunca é claro o quanto todos temos nos beneficiado ao fechar os olhos para o lado feio do mundo que construímos. A ignorância traz felicidade. A ignorância te redime de qualquer culpa. A ignorância permite que façamos coisas horríveis em conjunto sem nos responsabilizarmos por elas. E não é necessário nenhum governo totalitário para isso. E ninguém precisa nos impedir de refletir, fazemos isso por conta própria.