Carne Doce no Sesc Belenzinho

Quando você vê uma mesma banda com frequência, você assiste o show esperando por suas partes favoritas.

A explosão do primeiro verso de Cetapensâno. A intimidade de Eu Te Odeio, enquanto os holofotes iluminam a Salma e o Macloys. O clímax de Passivo. O riff envolvente de Brincadeira. E claro, a experiência transcendental que é Artemísia ao vivo. São alguns dos momentos de um show do Carne Doce que eu veria de novo e de novo.

Como todo bom fã, eu gosto da repetição. Ver a banda performando uma música que você ama é especial e insubstituível. E eu não abriria mão de nenhuma delas no meu setlist. Claro que esse é o tipo de desejo do público que faz com que tantas bandas cansem de seu principal hit. Afinal, elas tem muito mais a oferecer.

O show abriu com o combo da tour do Tônus, Comida Amarga e Irmãs. Performance impecável da banda e eu me vi novamente hipnotizada pelas danças da Salma. A novidade chegou na terceira música, a belíssima Temporal, novo single que já estava sendo cantando pela plateia, precedendo o novo álbum que deve sair ainda esse ano.

No sombrio, intimista e intenso Tônus, cada nota isolada e pausada ecoava com algo a dizer, uma atmosfera a criar, acompanhando as letras densas de Salma. Similar ao que Artemísia oferece no Princesa. Temporal já mostra um outro lado do Carne Doce. Acordes mais otimistas, dançantes, esperançosos, expansivos. Um olhar para fora.

Creio que por isso, ao invés de tocar uma enxurrada de velhas favoritas do público, eles selecionaram canções de todos os álbuns que emolduravam perfeitamente esse clima aconchegante e melancólico. Não teve Falo. Não teve Princesa. Besta e Brincadeira ficaram de fora. Sereno e Açaí brilharam, com Fruta Elétrica coroando a noite. Foi um novo espetáculo mostrando toda a flexibilidade de seu repertório. Foi como ver a banda pela primeira vez e tão impressionante quanto.

Não estamos mais na era Princesa nem na era Tônus. Algo diferente está para chegar e pude sentir essa expectativa no SESC Belenzinho. Mal posso esperar pelo novo álbum que materializará toda essa energia.

Mas claro que me juntei aos clamores do segundo bis pedindo Artemísia. Afinal, uma favorita é uma favorita.